Até aliados consideram situação grave

O Globo

Lydia Medeiros e Evandro Éboli

BRASÍLIA. A confirmação do empresário Sebastião Buani de que pagou propina ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), agravou a situação política do deputado: uniu parlamentares governistas e de oposição na convicção de que ele perdeu todas as condições de comandar a Casa e é preciso abrir investigação no Conselho de Ética. Os partidos de oposição devem apresentar o pedido de cassação do mandato de Severino na terça-feira, mas vão insistir na renúncia do presidente. A saída dele já era dada como certa.

De Nova York, Severino disse a assessores, por telefone, que não sai do cargo:

— Vou provar minha inocência e rebater cada acusação ponto por ponto. O que fizeram comigo foi um linchamento moral.

Aliados do presidente, como o corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), que pela manhã fazia a defesa de Severino, admitiram que os fatos apresentados por Buani são graves e é preciso checar a veracidade das provas que o empresário diz ter. Buani afirmou ter dado a Severino um cheque como parte da propina.

— É uma prova forte. Precisamos saber se existe mesmo esse cheque. Ele requisitou o cheque ao banco. Vamos aguardar — afirmou Ciro.

O corregedor chamou de chocante o depoimento de Buani e admitiu que se sente triste por ter que investigar o presidente da Câmara, com quem mantém relação estreita.

—- É um dos momentos mais difíceis da minha vida. Talvez o mais difícil. Mas vou saber separar o papel de corregedor do de amigo do presidente da Câmara e cumprir meu dever.

O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), afirmou que Severino deve retornar ao país, mas não apoiou a idéia de afastá-lo.

—- Temos que tratar o assunto como questão de Estado. Defendo que o presidente retorne imediatamente ao Brasil, se reúna com os líderes dos partidos e a Mesa Diretora e se inicie imediatamente a investigação — disse o petista.

Fontana disse temer que um afastamento imediato de Severino possa deflagrar uma briga política entre os partidos. Por isso, disse que é preciso uma apuração rápida, que não dure 90 dias, como ocorre normalmente.

— As denúncias são muito graves e ampliadas por sucessivas confirmações. É inevitável a apuração pelo Conselho de Ética — defendeu o deputado Paulo Delgado (PT-MG).

O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) afirmou que Buani sepultou a presidência de Severino.

— Ele terá de perceber que deixou de ser presidente de fato e não tem mais autoridade para falar pela Casa. Se não renunciar, os deputados de bem vão protestar, deixando de comparecer ao plenário — antecipou Neto.

O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), também foi taxativo:

— Severino tem de renunciar. Esses fatos se somam a outros e mostram que Severino mentiu.

O líder do PDT, Severiano Alves (BA), falava em antecipar para hoje o pedido de cassação. Disse que ficaria de plantão em Brasília, à disposição dos partidos de oposição. Mas o mais provável é que a representação seja protocolada na semana que vem.

— Severino não tem mais como defender o mandato nem o cargo de presidente. Vamos vê-lo como um presidente suspeito — afirmou Severiano.

Outro aliado de Severino, o deputado João Caldas (PL-AL), reconheceu a gravidade da situação, mas disse que, sem provas materiais, é a palavra de um contra o outro. Caldas avaliou haver elementos para a abertura de processo devido aos detalhes dados por Buani.

A crise na Câmara também foi discutida no Senado. Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) teme que o caso Severino desvie as atenções da crise política que envolve o governo Lula:

— Severino não merece estar na presidência, mas não se pode mudar o foco, que é Lula, que é a imoralidade deste governo — afirmou.

Severino será ouvido pela comissão de sindicância da Corregedoria semana que vem. Sobre as versões dadas por Severino para a assinatura do contrato com a Fiorella, Ciro Nogueira disse que vai valer a versão oficial. Segundo ele, Severino não reconheceu o documento, que será enviado para análise. O corregedor acredita que até o fim da semana que vem a Corregedoria terá decisão sobre o caso.

Paulo Delgado
Paulo Delgado
Sociólogo, Pós-Graduado em Ciência Política, Professor Universitário, Deputado Constituinte em 1988, exerceu mandatos federais até 2011. Consultor de Empresas e Instituições, escreve para os jornais O Estado de S. Paulo, Estado de Minas e Correio Braziliense.

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